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Gostar de gente é essencial

Gostar de gente é essencial

mensajes_amor_hd-1280x800 Gostar de gente é essencial

Quando Billy chegou em casa, o
senhor Toshiro, um simpático velhinho dono do gatil em que nosso gato foi
criado, sentenciou profeticamente do alto de sua sabedoria oriental: Billy
gosta de gente. 


E assim tem sido. Billy recepciona democraticamente com um
efusivo roçar nas pernas todos que entram em nossa casa, deixa-se acariciar com
paciência, pisca calorosamente os olhos quando lhe falam com ternura e –
maravilha das maravilhas! – marca com cuidado seu território quando quer dormir,
comer, recolher-se junto ao computador enquanto meu marido trabalha, ou olhar
os quase improváveis mosquitinhos que surgem em nosso apartamento no nono
andar.


O respeito à sua personalidade
é unânime: todos gostam dele e ele gosta de todos. Desfila seu sucesso
solenemente pela casa, olha filosoficamente as plantas em nossa pequena varanda
e, como se fosse sempre a primeira vez, repete entusiasticamente sua rotina
diária. No meu canto de observadora, olho intrigada para meu gato. 


A mágica que
envolve a figura do Billy talvez esteja na benigna complacência com que
contempla a vida, na sensibilidade que demonstra ter quando alguém está doente
ou triste, mas certamente é seu movimento de aproximação com todos e a
aceitação do jeito de ser de cada um o ingrediente fundamental de seu sucesso.
E tenho inúmeras razões para acreditar nisso. 


Humberto Maturana, autor chileno
estudioso das relações humanas, diz que a vida é sempre um fluir de emoção e
racionalidade. Em nossas interações com outras pessoas, a razão “arruma a
casa”, mas, essencialmente, nossas emoções impulsionarão, marcarão e estarão
persistentemente por trás de nosso comportamento.



Enfim, somos movidos a emoção.
Se nós “descobrirmos” isso em nossos relacionamentos, acredito que a vida fique
bem mais fácil para os outros e para nós mesmos. Viajo muito, trabalho aqui e
no exterior com profissionais que dependem de uma boa comunicação em inglês
para se sair bem em seus negócios, nos espaços em que atuam, nos contatos
sociais que movimentam a vida. 


Afirmo sempre que ‘gostar de gente’, como diria
o gentil japonês Toshiro, é essencial. Reconheço, entretanto também, que essa é
uma condição que, às vezes, encontra sérios obstáculos para se concretizar. E
se o contato e a aproximação com pessoas do mesmo país, que compartilham a
mesma cultura, os mesmos hábitos e costumes, esbarram em dificuldades de
diversas naturezas, os desafios são ainda maiores quando entramos em contato
com os estrangeiros. E nem adianta pensar que a leitura de livros sobre a
cultura local é a solução para resolver qualquer problema que possa surgir
nesses contatos.


Ela certamente ajuda, mas é
preciso ficar atento às sensibilidades que estão em jogo no processo de
comunicação, e, consequentemente, para o que acontece quando as pessoas de uma
determinada cultura interagem entre si. Questões como espaço físico individual
e distância mínima que devemos respeitar quando conversamos com alguém, tom de
voz adequado à circunstância, pontualidade, diferenças culturais envolvendo
assertividade, rituais das relações hierárquicas, etiqueta empresarial e
social, entre outras, compõem um universo sutil muitas vezes não claramente
detectado e “arranhado” por nós. 


Observar as sutilezas que estão em jogo no
processo de comunicação, dentro ou fora de nossa cultura, voltar, enfim, o
nosso olhar e nosso interesse para as pessoas que estão à nossa volta, pode,
então, ser a razão do sucesso ou do fracasso de nossos relacionamentos e,
consequentemente, da nossa razão de ser na vida.


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Marlene Theodoro é Doutora em
Artes pela UNICAMP, Mestre em Comunicação Social, responsável pelos cursos de
Técnicas de Apresentação em Inglês do Instituto Reinaldo Polito e professora
nos cursos de pós-graduação da ECA-USP. 
polito@uol.com.br

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